Touros
Parque Linear do Rio Palmital
Quando pequeno, gostava de observar meu pai assistindo aos programas de rodeio na televisão. Imagine uma tonelada saindo do chão, com as quatro patas no ar. Os pulos dos touros eram monumentais e assustadores, lembro com muita nostalgia. As arenas sempre lotadas e o público alvoroçado. Eu não compreendia muito bem. “Por que o homem sobe em cima do bicho?” Muito tempo depois, consegui entender. Para o ser humano, o inusitado vira divertimento.
Em Barretos, na década de 1950, o entretenimento se tornou competição. O objetivo é não cair do animal. São oito segundos que parecem longos demais. A adrenalina altera nossa percepção, a visão passa a funcionar em câmera lenta. Com o risco de serem pisoteados, os peões assinam um atestado de coragem que poucas pessoas têm. [...]
As madeiras que compõem os brinquedos das crianças foram destroçadas por vândalos. O concreto que um dia já foi branco, leva consigo os sinais das fogueiras criadas por homens e mulheres necessitados, seja de calor ou de alma. O fogo triste que queima essas madeiras, é também o que queima as cheirosas flores. Conseguimos sentir de longe, pois bitucas de cigarro são encontradas por todo o espaço, seja de nicotina ou de cannabis. Não é novidade que as ruas são repletas de perigos na região metropolitana de Curitiba. Ao andarmos pelo Parque Linear do Rio Palmital, em Colombo, sinais de marginalização são presença garantida. Entretanto, nem tudo é marginal. Há uma prática, na qual aspectos estereotipados e marginalizados se encontram com o esporte: o skate.
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Uma vida corrida
Inúmeros corredores chegavam ao Ginásio Ney Braga em São José dos Pinhais. Depois de 10 quilômetros percorridos, estavam suados e exalando cansaço a cada traço facial expressado. Um, dois, três, Edimara perdia as contas, preocupada e incomodada com a demora. Após 46 longos minutos, entretanto, o centésimo segundo homem exausto e sem fôlego cruza a linha de chegada. Era Rogério, que naquele momento completava a Corrida da Primavera e dava início à sua trajetória no atletismo. “Pensei que ele tinha morrido no meio do caminho” - brinca a esposa, 22 anos depois.
Essa história, na verdade, começou na baixada santista. Incentivado pelo tio a correr na praia, Rogerio Jesus dos Santos mostrou um princípio desinteresse quando jovem. “Eu não corria. Só corria da minha mãe quando ela vinha me bater. Uma vez até rasgou a minha camiseta”. Depois de morar em Santos, Curitiba e Rio de Janeiro, foi em território capixaba que o gosto pelo atletismo floresceu. “Eu via as outras pessoas correndo. Sem querer muita coisa, comecei a fazer as minhas corridinhas”. Mesmo sem Rogério saber, esses pequenos trotes mudariam a sua vida para sempre.
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